Eletrosmog:
conheça as nuvens de energia dos eletrônicos
Richard Latker
Se você mora em uma grande cidade,
trabalha na chamada economia do conhecimento, e portanto está sempre
disposto a tirar vantagem das conveniências da tecnologia da informação,
sua exposição à nuvem invisível de energia conhecida como campo
eletromagnético, ou eletrosmog, pode ser consideravelmente superior à de
seus colegas que trabalham na mídia convencional ou no campo da baixa
tecnologia.
É uma da manhã. Será que o refrigerador de seu vizinho está
posicionado do outro lado da parede junto à qual você dorme? O celular
que você usa está com o despertador ligado para as seis da manhã e
posicionado estrategicamente sobre a mesinha de cabeceira ao lado de sua
cama? O laptop equipado com Wi-Fi ficou na sala de estar está programado
para baixar filmes (que estejam em domínio público, claro) ao longo da
madrugada? Você dorme bem quentinho e confortável com a ajuda de um
cobertor elétrico? O senhorio de seu edifício alugou espaço no teto para
uma torre de telefonia móvel ou para o mastro de transmissão de um
provedor de Wi-Fi?
Se a resposta a qualquer dessas perguntas for positiva, você está
dormindo em meio a uma densa nuvem de eletrosmog. Linhas de energia,
geradores e motores elétricos, eletrodomésticos, aparelhos eletrônicos e
sistemas de comunicação sem fio todos geram campos elétricos e
magnéticos, que somados constituem o campo eletromagnético ¿ o campo de
energia criado por qualquer sistema elétrico.
Se você vai trabalhar de metrô, precisa levar em conta que o percurso
no trem o expõe a um forte campo eletromagnético, por conta do trilho
eletrificado que alimenta o trem e dos motores elétricos que o acionam.
O campo não tem força suficiente para corromper dados no disco rígido de
um laptop (ainda que queixas do tipo tenham sido feitas contra o trem
Maglev de Xangai). Mas tente assistir a um DVD na plataforma e é
provável que venha a perceber as ondas de interferência em sua tela
quando o trem passa.
No escritório, você talvez se acomode a menos de um metro de diversos
adaptadores elétricos, cada um dos quais gera um campo eletromagnético
de potência variável. E é preciso também levar em conta a rede sem fio
do escritório, o forno de microondas no refeitório, as dezenas de
celulares e o condutor elétrico principal de 11 kilovolts que corre sob
a calçada diante do edifício.
Pouca gente a acredita que campos elétricos de baixa intensidade
sejam perigosos. É fácil isolá-los, no mínimo. Qualquer material
condutor, como uma tela metálica ou um ser humano, resolve o problema.
Mas o componente magnético do campo, vinculado com muito mais freqüência
a problemas de saúde, é bastante mais difícil de mitigar. A única
proteção garantida contra ele é a distância.
Os campos eletromagnéticos tem duas variedades básicas: a freqüência
de microondas e a freqüência de energia. Ambas são não radiativas e
costumam ser mensuradas em miligauss (mG). Há medidores simples de nível
de Gauss à venda na Internet, por menos de US$ 100.
Freqüência de energia: as redes elétricas modernas usam corrente
alternada, que oscila nos dois sentidos pela linha elétrica. Essa
oscilação gera uma freqüência de força magnética de 50 ou 60 hertz, a
depender do país. As fontes típicas incluem aparelhos e linhas elétricas
e os adaptadores de corrente usados em computadores, impressoras e
modems.
Ironicamente, a maior parte dos aparelhos eletrônicos usam corrente
contínua e não corrente alternada. Porque a rede elétrica opera com
corrente alternada, o adaptador se torna necessário ¿ aquela pesada
tomada retangular que pesa na mala de seu laptop. Estar sentado a 50 ou
60 centímetros de distância do adaptador de corrente de uma impressa
laser expõe o usuário a entre um e seis mG de campo eletromagnético. Em
comparação, o governo sueco recomenda que as creches e escolas mantenham
campos eletromagnéticos de menos de 2 mG.
Alguns aparelhos eletrônicos, por exemplo alguns modems DSL, usam
corrente alternada, ainda que a voltagem da tomada continue a precisar
ser reduzida, de 110 ou 220 a 12 volts. Os adaptadores de corrente
emitem forte campo eletrônico, de até 16 mG a uma distância de 50
centímetros.
Freqüência de microondas: As fontes de microondas incluem celulares e
mastros de transmissão de telefonia móvel, sistemas Wi-Fi e telefones
sem fio. Fornos de microondas geram freqüência de energia, mas não muita
freqüência de microondas. Eles são pesadamente blindados para prevenir
vazamentos e se desligam quando a porta é aberta.
Será que algo que cozinha o jantar é capaz também de cozinhar o
cérebro? Sim, embora o campo gerado pelos celulares varie dependendo do
modelo e da distância que os separa da torre de transmissão mais
próxima. A maioria dos fabricantes de celulares divulga o volume de
radiação que cada modelo despeja nos cérebros dos usuários usando um
padrão conhecido como Taxa Específica de Absorção, ou SAR. O número da
SAR normalmente pode ser encontrado perdido entre as letrinhas miúdas do
manual do usuário.
Nos Estados Unidos, a SAR máxima admissível é de 1,6 watt por quilo
de peso do usuário; na maioria dos países europeus, o limite aceito é de
dois watts por quilo. Há celulares à venda cujo número SAR é de apenas
0,2 watt por quilo.
No que tange à necessidade de proteção contra os sinais de microondas
do Wi-Fi, o consenso é muito menor. A potência de transmissão desses
sinais é muito baixa, usualmente de menos de 0,1 watt. Mas à medida que
os sistemas desse tipo proliferam, o eletrosmog também deve registrar
elevação. Uma maneira de reduzir a exposição seria desligar o aparelho
Wi-Fi quando ele não estiver em uso.
Tradução: Paulo Migliacci ME
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