Abusabilidade e usabilidade em banda larga

Os novos castelos vão se erguer nesse universo mais televisivo do que a internet e mais interativo do que a TV como conhecemos. Porque as linguagens e os bons sites estão sempre em construção.

Marcelo Gluz

Ainda é 2004, mas já se pode assumir que a barreira dos Kbps está prestes a ser quebrada para a alegria dos usuários mais impacientes e alívio dos designers mais criativos. Portas estão se abrindo para quem sempre detestou as limitações de ter que projetar tendo o tempo de download como fator principal. O usuário médio vem se especializando, exigindo gradualmente sites mais dinâmicos, interativos e atrativos.

Nenhuma grande revolução: a premissa KISS (Keep it simple, stupid) nunca foi tão verdadeira e "menos" continua sendo "mais". Mas o que muda então? Principalmente o conceito da palavra "simples", que deixa para trás sinônimos como pobre e impessoal para agregar sinônimos como inteligente e elegante. A simplicidade virá do bom gosto e não da deficiência tecnológica.

Fotos maiores, elementos em drag-and-drop e em mouse-over, destaques animados, layers que se abrem por sobre outros elementos e transições mais fluidas que o velho refresh de browser surgem para melhorar a vida do usuário, ao contrário do que possam pensar os mais tradicionalistas. Nada tão complicado quanto eles imaginam.

Parece razoavelmente claro que arrastar um objeto da posição ‘a’ para a posição ‘b’ é bem mais instintivo do que clicar num link com a inscrição ‘mover para a posição b’. É igualmente óbvio que um destaque em formato slide-show, onde as chamadas se alternam num mesmo espaço, economiza preciosos pixels de primeiro scroll, em relação ao modelo com os mesmos destaques espalhados pela página. É por essas e outras que o Macromedia Flash se tornou ferramenta fundamental na concepção de sites de primeiro nível. Não é de hoje que a web está repleta de interfaces inteligentes em flash, sem que o fato de ser em flash se sobressaia ao fato de ser inteligente.

Um bom exemplo disso é o recém-projetado Globo Media Center, site que disponibiliza na web o catálogo de vídeos da Rede Globo e Globosat, possibilitando que o usuário monte e ordene sua playlist de acordo com sua preferência, formando e assistindo uma programação customizada e interativa. A experiência se distancia da metáfora de “navegação entre páginas” da web tradicional, onde a cada clique, o usuário se move de uma página para outra. Nesse caso ele está sempre no mesmo lugar, transformando, expandindo e ocultando elementos de acordo com seu interesse, sem que pare de assistir aos vídeos e sem que seu browser faça refresh.

Nielsen e os usability freaks vão ter que fazer workshops de reciclagem em estúdios da nova geração. É bem verdade que os flasheiros de plantão deveriam ter lido Nielsen em algum momento, mas isso é uma outra discussão. O fato é que as interfaces em camadas de informação sugeridas em filmes de ficção científica como Minority Report nunca foram tão reais.

A web sempre será primordialmente uma fonte de informação interativa. Sites com masturbações gráficas e conteúdo raso só servem para portfólio de designer amador. Na internet, forma deve seguir função tanto quanto em qualquer outra mídia. A diferença é que a partir de agora a informação estará exposta de uma maneira menos parecida com a dos livros e mais parecida com a do que será a TV interativa e com a do que foram os CD-ROMs. Pelo menos a dos CD-ROMs de qualidade.

Em paralelo a esta história, toda a TV interativa segue para o mesmo panorama, onde cabe ao usuário escolher que camada de informação quer ver. Estâncias informacionais em sobreposição permitirão que se revele somente o que for do interesse do usuário. Até chegar a este cenário a TV tem que convencer o telespectador de que ele pode ser ativo em relação à informação que chega. A internet não precisa convencer seus usuários disso. Eles são ativos por natureza. Usam a internet com uma postura (física e motivacional) ativa e não recostados no sofá após um cansativo dia de trabalho.

É nesse universo mais televisivo do que a internet como conhecemos e mais interativo do que a TV como conhecemos que os novos castelos vão se erguer. Os tijolos estão por aí, resta saber quem é que vai construir os novos dogmas e quem é que vai quebrá-los mais tarde, pois as linguagens, assim como os bons sites, estão eternamente em construção. [Webinsider]


 

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