Operadoras investem em conteúdo multimídia para turbinar celulares


Sheila Zabeu
Mundo Digital

Nenhum segmento cresceu tanto em um período de vacas tão magras. Em meio a uma avalanche de cenários ruins, com a Guerra do Iraque e a crise agravada de desemprego mundial, a indústria de celulares superou todos esses entraves e cresceu polpudos 20,5% em 2003 no mundo.

Segundo estudos realizados pelo Gartner, a razão da forte movimentação foi a demanda em países emergentes - e aí se encaixa o Brasil, que no último ano iniciou a fase de consolidação das redes CDMA e GSM, e assim incentivou a compra de modelos mais avançados - e a substituição de aparelhos nos mercados mais maduros. Foram 520 milhões de celulares vendidos em todo o mundo em 2003, número que deve crescer 60 milhões neste ano, de acordo com estimativas do mesmo instituto.

Também em 2003, a telefonia móvel conseguiu outro feito. O número de usuários de celulares voltou a superar os de telefonia fixa, na proporção de 1,35 bilhão para 1,2 bilhão, segundo dados da União Internacional de Telecomunicações (ITU), vinculada à ONU. O Brasil já replica a proeza - pelos números da Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações), em setembro do ano passado, já havia 40,1 milhões de celulares contra 39,1 milhões de linhas fixas. Até o fim de 2003, o número de usuários de celulares cresceu para 46,4 milhões.

Mas o que isso tem a ver com você? Ainda que o mercado seja favorável, as operadoras têm consciência que o poço vai secar ou pelo menos se estabilizar em breve. O prazo em que isso vai acontecer não é unanimidade entre as grandes operadoras de telefonia móvel com presença no Brasil. Para a Vivo, ainda há espaço para crescimento da base de usuários. "Acredito que 2004 ainda será um ano para crescimento da base de usuários", afirmou André Mafra, gerente da divisão de conteúdo da operadora". As outras operadoras já estão apostando alto na oferta de serviços e conteúdo como estimuladores para o tráfego de dados.

Durante o evento Tela Viva Móvel - Encontro dos serviços e entretenimento wireless, que aconteceu em São Paulo nesta semana, Claro, Oi, TIM e Vivo falaram sobre as tendências no mercado de telefonia móvel. Saiba mais nas próximas linhas o que as operadoras estão preparando e o que você verá em breve na tela do seu celular.

Show Me The Money

Se você é usuário de um celular pós-pago, certamente se controla todos os meses para que seu salário não seja todo devorado pela conta de telefone. Por outro lado, se tem um modelo pré-pago, faz ligações a cobrar ou pede que as pessoas liguem para você até recarregar novamente seu cartão.

Seja em um caso ou no outro - e talvez mais gritantemente no segundo -, as operadoras de telefonia móvel só vão conseguir abocanhar uma parte maior do seu orçamento se passarem a oferecer serviços cada vez mais úteis e interessantes que estimulem o consumo de mais tráfego na rede além do que fazem as chamadas de voz.

De download de tons polifônicos para o toque do aparelho à transmissão de vídeos em tempo real, todas as quatro grandes operadoras, Claro, Oi, Tim e Vivo, cada qual à sua maneira, já lançaram ao longo dos últimos meses serviços que disputam a atenção do usuário do celular.

O mais básico e antigo é o Short Message Service (SMS), um serviço similar ao paging que permite enviar e receber pelo celular curtas mensagens de texto. Por sua facilidade de uso - ainda que seja incomodo digitar seqüências mais longas de texto no teclado do celular -, o SMS é tido como o serviço com maior potencial para estimular o tráfego de dados pelas redes de telefonia móvel. Na Europa, EUA e Ásia , esse serviço é bastante popular a ponto de já terem surgido problemas relacionados ao spam em celulares.

No Brasil, o SMS ficou conhecido pelo termo "torpedo" e se popularizou entre o público geral com a votação dos reality shows. Com base nessa tecnologia, todas as operadoras lançaram e continuam lançando diversos tipos de serviços de texto, de notícias e bate-papos a jogos e desafios, além de ofertas segmentadas, como é o caso do Oi Xuxa, o Oi MTV e Oi Universitários. "A Oi tem como característica principal fazer dos celulares um estilo de vida e não um objeto tecnológico, oferecendo sempre serviços criativos e inovadores", afirma Michelle Xavier, coordenadora de marketing de serviços da Oi.

Falando em criatividade, com o MMS (Multimedia Messaging System), uma versão turbinada do SMS, é possível criar serviços mais ricos e atraentes capazes de enviar e receber imagens, vídeo e áudio desde que o celular seja compatível, ou seja, possua, por exemplo, câmera digital fotográfica embutida.

Um exemplo desses serviços é Oi Kamasutra, que apresenta aleatoriamente a imagem de uma entre 40 posições sexuais animadas, com comentários e nível de dificuldade. Lançado no ano passado, esse serviço -que ganha a atenção dos assinantes principalmente nos finais de semana, segundo a operadora- como qualquer outra aplicação MMS só pode ser usado por aparelhos com recursos multimídia.

Nesta semana, foi lançado o Mundo Oi, que contará inicialmente com 100 vídeos com até um minuto de duração com notícias de esporte e do mundo da Band News. Os assinantes também podem baixar vídeos do BBB, Porteiro Zé, Garotas Morango e Revista Sexy. O Mundo Oi estará, inicialmente, disponível apenas no aparelho Motorola C355V. A operadora também oferece serviços de blog e fotoblog pelo celular, com o objetivo de criar comunidades entre os usuários da Oi.

Também na onda da multimídia, a TIM já oferece diversos serviços que querem chamar a atenção não só dos ouvidos, mas também dos olhos dos assinantes. "A TIM quer oferecer informação e entretenimento muito além da voz", afirma Vincenzo di Giorgio, gerente de desenvolvimento de serviços da operadora italiana.

A FotoMensagem, por exemplo, foi o primeiro serviço MMS da operadora, lançado em outubro de 2002, e permite enviar texto, imagem, fotos e sons para qualquer aparelho TIM ou para algum endereço de e-mail. Clientes com aparelhos sem recursos multimídia podem ver o conteúdo no site da operadora.
Com um clique, o cliente TIM também pode pedir que a FotoMensagem seja impressa e enviada pelos Correios para qualquer pessoa. "Permitir que emoções possam ser compartilhadas instantaneamente - esse é objetivo da TIM com serviços como o TIMClick", explica di Giorgio.

De modo semelhante ao FotoMensagem, funciona o VideoMensagem que permite que aparelhos com câmeras de vídeo digital gravem e transmitam, ao toque de dois botões, via MMS ou e-mail, filmes de até 40 segundos.

A evolução desses serviços, prometida pela TIM para esse ano ainda, é a MobileTV, que vai transmitir na tela de celulares com tecnologia MMS programações de canais de TV com quem a operadora está negociando. "A idéia não é competir com a televisão convencional, mas, por exemplo, pode ver o replay de um gol ou acompanhar a entrevista em um noticiário, mesmo estando longe de um aparelho de TV", explica di Giorgio.

A TIM também está preparando o Blackberry 7230, um misto de handheld e celular que por meio da rede da operadora vai poder, por exemplo, receber e enviar e-mails, incluindo os arquivos anexos em Word, Excel e PowerPoint. Outro serviço que a TIM promete lançar ainda em 2004 é o i-Box, que vai unificar no celular diversos tipos de mensagens, de mensagens de voz a e-mails, fax, SMS e MMS.

Com o TIM i-Box, o usuário vai poder acessar todo esse conteúdo pelo aparelho, pelo portal WAP, por mensagens de voz ou no site da TIM. Vai ser possível, por exemplo, ouvir e-mails pelo celular e mensagens de voz na Internet ou imprimir um fax diretamente de sua caixa de entrada.

A Vivo está comemorando um ano do lançamento de seus serviços Vivo Downloads, que atingiu a marca de 600 mil acessos para transferir jogos, tons polifônicos, imagens e vídeo, entre outros aplicativos, para os celulares. O Vídeo Trânsito e Olho Vivo, que transmitem vídeo em tempo real (streaming), foram anunciados recentemente.

O Vídeo Trânsito acessa câmeras de trânsito instaladas em pontos de grande movimentação da cidade de São Paulo, para que o motorista possa escolher a rota com menor tráfego. Além da assinatura mensal de R$ 9 pelo uso aplicativo, o assinante também é cobrado pelo tráfego dos dados.

O Olho Vivo permite visualizar pelo celular e em tempo real as imagens de uma câmera de vídeo instalada a um computador conectado à Internet. A principal função desse aplicativo é o monitoramento de locais e pessoas, ou diversão, caso o assinante do serviço seja um vouyer. O modelo de cobrança é o mesmo do Vídeo Trânsito.

A Vivo também apresentou recentemente, na Telexpo, o protótipo de um serviço para consulta de saldos e extratos bancários de instituições que já oferecem tais recursos pela internet. A operadora pretende lançar a versão final do serviço em alguns meses para assinantes com celulares compatíveis.

Entrando na onda

"Não somos a mais inovadora, como a Oi, nem a mais grandiosa, como a Vivo e não temos os serviços de alta tecnologia da TIM. Mas temos um objetivo muito claro: escutar nossos clientes." Foi assim que Marco Quatorze, gerente de produtos da Claro, definiu a operadora que passou por grandes mudanças no último ano.

A Claro é resultado da união das operações da ATL, Tess, Americel, Claro Digital, BCP Nordeste e São Paulo. A operadora é controlada pelo grupo mexicano América Móvil, do empresário Carlos Slim, que também é controlador da maior operadora fixa do país, a Telmex, e recentemente comprou o controle acionário da Embratel.

Das quatro operadoras, a Claro foi a última a optar pelo padrão de telefonia móvel GSM (Global System for Mobile Communications, antes conhecido pelo termo em francês Groupe Spécial Mobile), depois da Oi e da TIM. A Vivo usa a tecnologia CDMA. Por estar ainda lidando com questões internas e a sobreposição do GSM com o padrão TDMA (também oferecido pela operadora), a oferta de serviços da Claro não é tão ampla com a das concorrentes.

A Claro tem bem definidas as diretrizes que desejam dar a seus futuros serviços. "Todo cliente terá direito a tudo", afirma Quatorze, explicando que o modelo de cobrança será bem simples, sem que os usuários tenham que fazer assinaturas nem pagar pelo tráfego usado. Bastará selecionar entre os serviços compatíveis com o aparelho que são apresentados em um menu na tela do celular.

Segundo Quatorze, o papel das operadoras é oferecer a infra-estrutura da rede e ser uma integradora, ou seja, fazer a ponte entre o provedor de conteúdo e o usuário. Porém, existem muitos entraves que ainda precisam ser combatidos para que os serviços de dados nos celulares ganhem força, alguns de responsabilidade da operadora e outros não, na visão do executivo da Claro.

O obstáculo mais nítido certamente é a falta de recursos nas operadoras para a integração de serviços e conteúdo. Faltam braços para analisar e operacionalizar as opções oferecidas pelos diversos provedores e desenvolvedores. Por outro lado, o modelo de licenças adotados pela maioria dos provedores não garante o comprometimento entre as partes, ou seja, as operadoras precisam pagar uma taxa fixa independente do tráfego que o serviço ou conteúdo seja capaz de gerar. "Nesse sentido, o modelo de participação na receita talvez fosse mais justo", diz Quatorze.

A Claro assume para si a tarefa de tentar minimizar esses e muitos outros obstáculos ao desenvolvimento dos serviços e conteúdo para celular, como proteção aos direitos autorais e spam.

"O usuário brasileiro ainda tem pouco envolvimento com dados no celular. Voz e SMS ainda são a vaca leiteira das operadoras", observa Quatorze, fazendo questão de observar que a previsão da Claro é otimista em relação ao crescimento da mídia em celulares.

Se a bola de cristal estiver bem calibrada, muito em breve os brasileiros vão estar lendo seus e-mails no celular com tanta naturalidade como fazem no computador.


 

 

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