Molécula sintética é capaz de reprogramar células adultas

Philip Ball e Helen Pearson
Nature


Químicos da Califórnia descobriram uma molécula sintética que parece reprogramar células adultas, tornando-as mais semelhantes às jovens. Se a descoberta se confirmar, poderá ser uma fonte fácil de células para regenerar tecidos danificados por doenças ou lesões.

Sheng Ding e colegas do Instituto de Pesquisa Scripps em La Jolla, Califórnia, descobriram a molécula, que chamaram de reversine. Quando a utilizaram para tratar células que formam os músculos de ratos, elas aparentemente reverteram a um estado "em branco", com a capacidade de formar outros tipos de tecidos. Os pesquisadores puderam então orientá-las para se tornar células de osso ou gordura.

"É potencialmente interessante, mas deixa algumas perguntas sem resposta", diz Azim Surani, do Instituo Gurdon de Câncer e Biologia, em Cambridge, Inglaterra, que trabalha com reprogramação celular. Por exemplo, a equipe não conseguiu mostrar de maneira convincente que as células regrediram àquele estado primitivo "em branco". Isso precisará ser verificado, diz Surani.

Também não está claro quão eficiente é o processo, se a técnica funcionaria em células humanas ou de outros tipos e se algumas células morrem no tratamento, ele adverte. Até que essas perguntas sejam respondidas, o potencial clínico do trabalho permanece em aberto.

A maioria das células de nosso corpo se especializou ou "diferenciou" de alguma maneira, como as células vermelhas do sangue ou as células dos rins. Mas as células-tronco ainda não tomaram essa "decisão" e têm o potencial de se transformar em mais de um tipo de tecido.

Muitos pesquisadores estão trabalhando em maneiras de colher células-tronco do corpo e transformá-las em tipos de células capazes de reparar tecidos danificados. Uma fonte possível mas eticamente controversa de células-tronco são os embriões humanos.

Outros cientistas estão tentando "des-diferenciar" células adultas - efetivamente revertendo o relógio das células adultas para que elas voltem a ser células-tronco. Essa pesquisa é inspirada por organismos como a salamandra, cujas células podem se desdiferenciar quando ela regenera um membro perdido ou a cauda.

Esse efeito já foi obtido em células de mamíferos - Mark Keating e seus colegas da Escola de Medicina de Harvard, em Boston, Massachusetts, descreveram uma maneira de induzir a desdiferenciação de células de músculo de rato, interferindo em um gene chamado msx1.

Agora a equipe de Scripps encontrou uma substância química simples que parece causar o mesmo efeito. Uma pequena molécula semelhante a uma droga seria mais fácil de utilizar na clínica do que modificar os genes, disse Keating. "Gosto dessa abordagem - é limpa, e eu gostaria de testar a droga", ele diz.

A equipe descobriu a reversine tratando sistematicamente células de músculo de rato com cerca de 50 mil moléculas candidatas diferentes, que eles esperavam que aderissem às enzimas capazes de produzir a desdiferenciação e as acionassem. As células tratadas com reversine desligaram genes relacionados ao músculo e não deram mais origem a células musculares, sugerindo que elas tinham se desdiferenciado. Quando tratadas com determinadas substâncias químicas, essas células pareceram formar células de gordura ou músculo.

Para tornar os resultados mais convincentes, agora a equipe precisa documentar cuidadosamente a regressão das células musculares a um estado semelhante a células-tronco, diz Keating. Eles também deverão descobrir com que enzimas a reversine interfere, e se isso poderia causar problemas ao corpo humano.



Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

 

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