Cientistas descobrem como pequenos defeitos causam estragos

Do Instituto Max Planck


Muitos materiais perdem as propriedades úteis assim que suas dimensões caem abaixo de certo limite. Esse chamado efeito tamanho, cujas origens podem variar muito, pode ser um empecilho para a miniaturização de componentes eletrônicos, eletromecânicos e eletroópticos. Para uma classe de materiais especialmente promissora, os óxido ferrelétricos, pesquisadores do Instituto Max Planck de Física de Microestruturas identificaram uma nova origem do efeito tamanho: pequenos defeitos lineares, com extensão de menos de um décimo de nanômetro, podem deformar um tubo de material com corte retangular de cerca de 4 por 8 nanômetros. Essa deformação é tão grave que as propriedades ferrelétricas úteis do material são destruídas no interior do tubo. Essa nova descoberta mostra que a formação desses defeitos deve ser evitada para que os óxido ferrelétricos de dimensões nanométricas sejam usados como elementos de memória em futuros componentes eletrônicos. ("Nature Materials", Advanced Online Publication, 18 de janeiro de 2004).

As exigências cada vez maiores de miniaturização e eficiência de componentes eletrônicos resultam em esforços para incorporar novos materiais à microeletrônica baseada em silício, para superar os limites físicos dos materiais clássicos. Esses novos materiais devem ser empregados desde o início com dimensões espaciais muito reduzidas. Em geral, as dimensões são da ordem de nanômetros a dezenas de nanômetros. Um nanômetro é um milionésimo de 1 milímetro. Na escala nanométrica, as propriedades da maioria dos materiais dependem muito de suas dimensões externas, e a funcionalidade do material pode se perder abaixo de determinado tamanho. Portanto, na ciência dos materiais básicos tenta-se identificar claramente as origens e os mecanismos do chamado efeito tamanho.

No caso de uma classe específica de materiais, os óxido ferrelétricos, o desafio é especialmente importante. Materiais desse tipo têm diversas aplicações em um amplo leque de componentes eletrônicos, eletromecânicos e eletroópticos avançados. Em muitos casos esses materiais tendem a perder sua funcionalidade assim que as dimensões externas caem na escala de nanômetros. Materiais desse tipo são, por exemplo, titanato zirconato de chumbo, tantalato de bismuto estrôncio e titanato de bismuto. Os óxido ferrelétricos podem ser usados para construir células de memória "não-volátil" em microeletrônica baseada em silício - células que não perdem sua informação quando a corrente elétrica é desligada.

A memória ativa dos computadores pessoais - RAM - poderia ser significativamente aperfeiçoada se fosse possível construir células de memória não-volátil com uma densidade de armazenamento de vários bilhões de bits por centímetro quadrado. Dessa maneira, a ligação do PC, que consome tempo e energia, e a lenta gravação de arquivos no disco rígido poderiam ser completamente evitadas. No entanto, para atingir esse objetivo há necessidade de uma miniaturização das células de memória para algumas dezenas de nanômetros. Conseqüentemente, a pergunta de por que os óxido ferrelétricos perdem suas propriedades de memória abaixo de certo tamanho na escala nanométrica é especialmente oportuna. Físicos de estado sólido investigam essa questão em todo o mundo, mas ainda não obtiveram uma imagem unificada da origem do efeito tamanho nos óxido ferrelétricos.

Um grupo de pesquisa dirigido por Ming-Wen Chu, Marin Alexe e Dietrich Hesse no Instituto Max Planck de Física de Microestruturas em Halle (Alemanha) conseguiu identificar um mecanismo para o efeito tamanho nos ferrelétricos que não havia sido considerado até agora. Os pesquisadores do Max Planck conseguiram mostrar que certos defeitos em treliças de cristal linear de menos de um décimo de nanômetro de diâmetro podem contribuir significativamente para a perda das capacidades de memória de ilhas de titanato zirconato de chumbo de 10 nanômetros de espessura. Esses defeitos se formam na interface das ilhas com o substrato feito de titanato de estrôncio. Aplicando microscopia eletrônica de alta resolução quantitativa, os pesquisadores conseguiram mostrar que cada um desses defeitos lineares, chamados de deslocamentos irregulares, é capaz de deformar um tubo de material com corte transversal retangular de cerca de 4 por 8 nanômetros e com 20 a 50 nanômetros de comprimento, em tal medida que o material perde suas propriedades de armazenamento. Se a ilha ferrelétrica for tão pequena que a maior parte de seu volume consista nesses tubos de material deformado, a ilha perde toda a capacidade de armazenamento. Assim, a formação desses defeitos na treliça deve ser evitada para que os óxido ferrelétricos com dimensões nanométricas possam ser empregados para armazenamento.

"O impacto perturbador dos deslocamentos irregulares sobre as propriedades ópticas e eletrônicas de nanoestruturas semicondutoras é um problema conhecido na física de semicondutores. Surpreendentemente, esse problema agora também se mostra relevante para a propriedade de memória das nanoestruturas ferrelétricas. Essa descoberta abre novas possibilidades para a escolha sistemática de combinações definidas de materiais para aplicações de óxidos ferrelétricos em elementos de memória miniaturizados", diz o professor Ulrich Gösele, diretor do Instituto Max Planck de Física de Microestruturas.



Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
 

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