Mamãe eu sou um consultor?            

Já se passaram 14 anos de vida como profissional independente e confesso que até hoje bate saudade da velha segurança, do registro em carteira, das gratificações, dos salários adicionais e das férias remuneradas. Etá tempinho bom! Quando chegava dezembro o salário dobrava, vinham às férias com todas as antecipações de direito e lá corriam maravilhosos vinte dias com pés descalços, caipirinha, sol e mar. Ô louco! Vamos deixar de lado o saudosismo, mas pelo menos para mim as coisas mudaram muito e até hoje não sei se foram para melhor ou pior, somente tenho certeza de que gosto do que faço sem desgostar do que fazia. Não sei se você já se deu conta, mas nossas mudanças sempre são acompanhadas das surpresas dos outros e são nestes momentos aonde testamos a firmeza e solidez dos objetivos futuristas que estrategicamente alvejamos. Pensar que vamos mudar algo sem provocar rupturas é muito cômodo e distante da realidade dos meios que nos cercam, pois nosso publico está sempre mais aberto para ouvir a evolução do obvio, coisas do tipo fui promovido, comprei um carro novo, a Karina se formou, o André parou de ficar e resolveu namorar, o Gabriel já aprendeu a nadar. Somos educados para acumular e, portanto estamos acostumados a aceitar informações acreditando na lógica das que somam ao que já dispomos na memória, ou melhor, nas que não ferem as coisas que já aprendemos. Faça uma analise real da sua vida e você vai se tocar que ser conservador é algo mais lógico do que morrer como “Che Guevara” e que tal condição está na natural vontade de preservarmos o que é bom ou de tentar prolongar o desastre, afinal morrer aos poucos é uma garantia maior do que a morte súbita. Estudar, entrar na faculdade, arrumar um emprego dentro de uma organização sólida, casar, comprar a casa própria, ter filhos e netos fazem parte do planejamento que esperamos daqueles que criamos e assim pensavam nossos avós, pensam nossos pais e modernistas ou não pensaremos um dia.
            Minha Mãe (80 anos) não é diferente da sua, mas permita-me que conte um pouco de alguém que foi bastante inovadora para sua época. Formou-se na politécnica em engenharia civil e engenharia química, dedicando boa parte da vida como catedrática na própria Poli e venceu, mesmo diante de todo tipo de retaliações por uma escolha que na época era reservada aos homens. Meu amigo leitor deve estar imaginando algo do tipo mãe louca filho louco. E foi exatamente assim que a coisa aconteceu, o símbolo da guerreira foi incorporado ao filho mais novo que, a exatos quatorze anos, trocou o certo pelo incerto. Ser consultor na época significava adotar uma profissão destinada aos executivos mal sucedidos e ser consultor hoje representa o primeiro cartão de visita impresso pelo exercito dos sem emprego. Em fim somos obrigados a conviver com isso tudo, e você já deve estar concluindo porque minha mãe até hoje não entende ou não quer entender o que faço. A coisa toda foi ficou pior quando há alguns anos comentei que tinha adicionado mais "mix" no meu trabalho. Que além de consultor agora seria também um palestrante. Coincidentemente a partir daquele dia ela nunca mais deixou de freqüentar a missa de domingo, rezando para que acabasse por optar por algum concurso publico e olha que nem falei que estava montando o escritório dentro da minha própria casa.
            Gente, meus amigos, meus queridos leitores não escutem tanto os velhos mandamentos do como era bom o meu passado, pois diria a vocês que pouco valor agregam para o seu futuro. Também peço encarecidamente que abandonem os velhos livros, os velhos professores, pois poucos serão de interesse para virar a sua mesa. É irrelevante seguir por meia dúzia de pessoas, que não renovam. É importante estar convicto de que a sua utilidade está no fazer o melhor daquilo que acredita doando seu dia para conquistar um pouco mais de meia dúzia fazendo com que a balança pese a seu favor. Trabalhe sempre pela adesão de novos pais, mães, maridos, esposas, filhos e filhas e assim aumente a representatividade e aceitação no meio que atua. Talvez, ainda leve algumas décadas tentando explicar meus objetivos. Talvez não consiga tal feito para todos, mas estarei convicto de que trilhei o caminho que queria seguir. Quanto a minha mãe talvez ainda não tenha convencido, mas por outro lado é sempre bom possuir parceiros críticos que te façam repensar, crescer e modificar.

Sérgio Dal Sasso
, é consultor palestrante em gestão de negócios, www.sergiodalsasso.com.br

 

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