Sinais de vida

Missão européia chega ao planeta vermelho e abre temporada de explorações para desvendar os segredos de Marte

Pablo Villarrubia Mauso – Madri (Espanha)
Colaborou: Cláudia Pinho

O planeta Marte, com seus homens verdes e aspecto sinistro, sempre mexeu com a imaginação humana. Em 1938, o então quase desconhecido ator e diretor americano Orson Welles provocou pânico ao noticiar num programa de rádio o que seria a invasão de marcianos hostis. Era uma adaptação livre da obra A guerra dos mundos, de H.G. Wells, mas mesmo assim, mais de um milhão de ouvintes saíram às ruas de Newark, Nova York e Nova Jersey, numa fuga em massa. No que depender das novas investidas espaciais, pode estar próximo o dia em que finalmente saberemos se estamos ou não sozinhos no Universo.

Se tudo der certo, a primeira missão européia para Marte, a Mars Express, logo pode começar a enviar os resultados preliminares das pesquisas feitas em solo e subsolo marciano. Isso se a nave conseguir estabelecer contato com o módulo de aterrissagem Beagle 2, a personagem principal dessa jornada. Desde o dia 25, data da sua provável chegada em solo marciano, não enviou sinais a Terra. Os cientistas da Agência Espacial Européia, porém, estão otimistas. Acreditam que as chances de encontrar a sonda são grandes. A próxima tentativa de localizar o Beagle 2 será no domingo 4.

O objetivo principal da missão é a mesma desde que a primeira missão não tripulada foi lançada pelos americanos em 1964: encontrar vestígios de água, que poderiam significar a existência de vida extraterrestre. Desde então, a corrida para Marte não parou. Fracassos como a missão russo-européia, de 1996, levaram os europeus a tentar compensar a perda com a atual missão, avaliada em US$ 300 milhões. A expectativa em torno do desempenho do Beagle 2 é grande. “Os equipamentos são mais sofisticados e o avanço tecnológico é muito maior”, afirma Marcomede Rangel, astrônomo do Observatório Nacional do Rio de Janeiro. Ainda assim, o ano de 2004 promete muitas surpresas sobre Marte. Os EUA acompanham ansiosos a chegada de sua missão Mars Exploration Rovers, que carrega a bordo dois robôs geológicos batizados de Espírito – o primeiro deles com pouso previsto para janeiro – e de Oportunidade, que desce logo depois, no outro extremo do planeta.

Para se ter uma idéia do poder de fogo do Beagle 2, ele é equipado com sofisticados instrumentos, capazes de analisar as amostras de solo recolhidas por um braço mecânico de três metros de comprimento. Três câmeras fixadas num braço robótico devem vasculhar o terreno ao redor da sonda. Uma delas está acoplada a um microscópio que vasculhará as rochas próximas e permitirá saber se existem microfósseis no solo marciano, e outra será capaz de cartografar a superfície do planeta com resolução de até dez metros de distância. A missão orbital da Mars Express, que servirá de elo entre o módulo Beagle 2 e a Terra, será confiada a sete instrumentos desenvolvidos pelos europeus, com exceção de um radar da agência espacial americana, a Nasa, que medirá a composição do solo marciano em até três quilômetros de profundidade. Com isso será possível saber se existem grandes camadas subterrâneas de água em estado sólido, comprovando a antiga suspeita de que o subsolo marciano estaria forrado por um oceano de gelo.

Para Luís Vázquez, um dos diretores do Centro Astrobiológico de
Torrejón de Ardoz, de Madri, a missão é fundamental para conhecer aspectos possíveis da vida marciana, tanto no passado remoto
como no presente. “Cientistas de todo o mundo serão beneficiados”, disse. O lugar de pouso, a região de Isidis Planitia, foi escolhido
por ser uma planície sedimentar onde outrora ocorreram grandes inundações. “A possibilidade de encontrar vestígios de vida é maior
nessa região”, diz John Grunthaner, do Laboratório de Propulsão a
Jato de Pasadena, na Califórnia.

O Mars Express foi lançado no dia 2 de junho de 2003, com um foguete russo Soyuz-Fregat de 304 toneladas, a partir da base de lançamento de Baikonur, no Casaquistão. A missão poderá, pela primeira vez, mapear o satélite natural Fobos, uma rocha irregular com 22 quilômetros de comprimento. Muitos dos cientistas envolvidos nessas missões espaciais estiveram reunidos em novembro num megacongresso sobre Marte no Centro de Astrobiologia de Madri. A opinião geral é que muito se saberá se forem achados vestígios de água.

“É um modo de investigar a vida do nosso planeta através das geleiras, uma vez que a origem da água na Terra pode ser vulcânica ou ter surgido através de cometas que caíram aqui”, diz Amâncio Friaça, astrônomo da Universidade de São Paulo. Sejam quais forem os resultados das expedições, uma coisa é certa. Essas missões preparam terreno para um vôo tripulado a Marte. Pela previsão das agências espaciais, o sucesso da Mars Express e da Mars Expedition vai determinar a chegada do ser humano ao solo marciano dentro dos próximos 20 anos.

Nome: Mars Expedition Rovers
Patrocínio: Estados Unidos
Custo: US$ 800 milhões

Lançado em 10 de junho, o primeiro dos dois robôs geológicos da Nasa, o Espírito, deve aterrissar em janeiro. Com 1,43 metro, 180 quilos e alimentado por energia solar, ele tem miscroscópio, câmera panorâmica e aparelhos para identificar e desgastar rochas. O segundo robô, o Oportunidade, pousará no outro extremo do planeta algumas semanas depois do Espírito. Seu objetivo é colher amostras minerais e geológicas para detectar presença de água em Marte.

Nome: Mars Express
Patrocínio: Europa
Custo: US$ 300 milhões

Lançada em 2 de junho de 2003 pelo foguete russo Soyuz, a sonda carrega o módulo Beagle 2, robô de 33 quilos com braço mecânico, câmeras coloridas, microscópio óptico e broca para perfurar
o solo. Seu objetivo é recolher amostras do solo e dos minerais, detectar vestígios de água no subsolo e fotografar o planeta. Deve ficar em Marte até junho de 2004.

 

 

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