Médicos tentam eliminar gordura com técnicas não-invasivas

Andrew Pollack
The New York Times


Parece bom demais para ser verdade, e talvez seja. Mas algumas empresas estão desenvolvendo meios de eliminar a gordura indesejada do corpo de modo indolor, sem a invasão e os efeitos colaterais da lipoaspiração.

Nenhuma das técnicas teve sua segurança ou eficácia comprovadas, mas os fiéis falam basicamente em derreter as células de gordura usando ondas sonoras, eletricidade ou injeções de uma substância que ataca a gordura.

"Todo mundo tem no consultório equipamentos que comprou acreditando que fossem a solução definitiva e acabaram não servindo para nada", diz Lawrence S. Reed, cirurgião plástico em Manhattan que faz parte de um comitê criado pela Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética para analisar novas tecnologias.

Uma técnica que está em fase inicial de testes clínicos usa ultra-som. As ondas sonoras de alta freqüência já são usadas por muitos cirurgiões plásticos para romper células de gordura, tornando mais fácil sugá-las na lipoaspiração. Se o ultra-som for aplicado corretamente poderá romper a gordura, que o corpo absorverá e eliminará gradualmente por conta própria, dizem as empresas.

"Nós apenas rompemos as células de gordura, e o corpo humano faz a outra parte do serviço", diz Yoram Eshel, principal executivo da UltraShape, companhia israelense que está trabalhando nessa técnica.

Eshel diz que a UltraShape testou o procedimento em 30 pessoas em Israel, mas ainda não publicou os resultados. "As mulheres que tratamos conversavam ao telefone ou liam jornal", ele disse. "Não sentiam dor alguma."

Eshel, que é físico, diz que a UltraShape pretende começar os testes clínicos em breve na Europa e no próximo ano nos Estados Unidos, e que espera ter a técnica aprovada para comercialização nos Estados Unidos em 2005.

A LipoSonix, uma pequena companhia de Bothell, Washington, também está trabalhando na remoção de gordura por ultra-som. Ela espera iniciar o primeiro teste clínico este ano, mas não prevê sua entrada no mercado antes de 2006, diz Jens U. Quistgaard, presidente da empresa.

A lipoaspiração é o procedimento cirúrgico cosmético mais comum, com 373 mil realizados nos Estados Unidos em 2002, segundo a Sociedade Americana de Cirurgia Plástica Estética. O procedimento, que envolve inserir tubos através da pele até as camadas de gordura para sugá-la, muitas vezes causa hematomas e inchaço que podem durar várias semanas, além de outras complicações como perda de sangue, coágulos e até a morte.

Uma pesquisa feita pela instituição entre cirurgiões experientes relatou um caso de morte em cada 47.415 procedimentos e complicações sérias em um em cada 384 procedimentos entre 1998 e 2000. Pesquisas anteriores haviam mostrado índices maiores de mortes e complicações.

A técnica de ultra-som usaria um transdutor parecido com o que é utilizado para examinar um feto no útero. Mas vários especialistas são céticos sobre o uso do ultra-som isoladamente, sem aspirar a gordura. "Se você fizer uma pequena área do rosto ou do pescoço, pode evitar a aspiração", diz Gary Rosenberg, ex-presidente da Sociedade de Cirurgia Plástica da Flórida. "Mas em áreas significativas é preciso remover a gordura".

Ronald L. Moy, professor-adjunto de dermatologia clínica na Universidade da Califórnia em Los Angeles, diz que os médicos continuam discutindo a eficácia do ultra-som usado como auxiliar à lipoaspiração. "Acho que ele ainda dissolve uma quantidade muito pequena ou mínima de gordura", diz Moy, que é presidente-eleito da Sociedade Americana de Cirurgia Dermatológica.

As empresas de ultra-som admitem que sem lipoaspiração apenas uma pequena quantidade de gordura pode ser removida de cada vez, para não sobrecarregar a capacidade do corpo de absorvê-la. Eles pretendem retirar cerca de 0,5 kg a 1 kg por sessão. A lipoaspiração permite remover de 4 a 5 kg de cada vez.

Os pacientes de ultra-som precisariam fazer diversas sessões, com cerca de um mês de intervalo. Mas cada procedimento duraria uma hora ou menos, diz Eshel. "É muito rápido."

Existem preocupações de segurança, no entanto. Rosenberg diz que se a gordura não for removida pode causar infecção ou entrar na corrente sanguínea e produzir coágulos. "Nós lutamos há duas décadas na lipoaspiração para eliminar essa possibilidade", ele disse.

Outros médicos, porém, disseram não ver grande risco. Mesmo com a lipoaspiração nem toda a gordura é retirada, mas o que fica não parece causar problemas, segundo eles.

Outra preocupação é que o ultra-som pode queimar a pele, os vasos sanguíneos ou nervos próximos à gordura que será retirada. A remoção de gordura exigiria altos níveis de energia do ultra-som. Quistgaard diz que a LipoSonix usaria uma energia de ultra-som cerca de mil vezes maior que a intensidade usada em obstetrícia.

Ele acrescenta que a energia teria como foco a camada de gordura abaixo da pele, de modo a não queimar a pele ao passar. "É como usar uma lente sob o sol", diz, quando uma folha pode ser queimada somente se estiver no ponto focal da luz.

Eshel, da UltraShape, disse que sua tecnologia depende mais da vibração que do calor para romper as células de gordura. "Eles estão cozinhando os tecidos", diz ele sobre a LipoSonix.

Nenhuma das empresas deverá sofrer falta de pacientes para testes clínicos. As pessoas estão enviando e-mails para ser voluntárias, diz Quistgaard, um engenheiro de ultra-som que ainda parece estar na transição do setor de diagnósticos médicos para o de cirurgia cosmética. "Eu fui citado na revista 'Allure'", conta.

Uma mulher de 55 anos de Tel-Aviv que se submeteu ao procedimento da UltraShape no abdômen lembrou a sensação do ultra-som: "Eu pude senti-lo, mas muito superficialmente. Não doeu nada". Ela conta que a técnica fez uma "grande diferença" cosmeticamente, mas não o suficiente. "Francamente, não posso dizer que está bem chata", diz sobre sua barriga depois de uma sessão. A paciente pretendia fazer uma plástica dali a um mês, que foi realizada. Ela pediu que seu nome não fosse usado porque não queria que amigos e parentes soubessem que havia feito a operação.

Um fiel no potencial do ultra-som é Rod J. Rohrich, presidente-eleito da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos e catedrático de cirurgia plástica na Universidade do Texas, em Dallas.

"Realmente parece haver uma boa ciência por trás disso", diz Rohrich, assessor da UltraShape que poderá conduzir seu teste clínico nos Estados Unidos. "Os dados israelenses são bons, pelo que ouvi." Mas ele diz que permanecerão dúvidas até que os dados sejam publicados em uma revista científica.

O ultra-som não é a única técnica que está sendo testada para eliminar gordura de modo não-invasivo. A droga Lipostabil supostamente dissolve a gordura. A substância, quimicamente chamada fosfatidilcolina, é produzida pelo corpo e participa do metabolismo da gordura. A droga é aprovada para utilização em alguns países como forma de baixar os níveis de lipídios no sangue, mas não para se injetar na pele para remover gordura. Ela não é aprovada para uso farmacêutico nos Estados Unidos, embora alguns médicos a estejam obtendo, aparentemente do estrangeiro.

A Sociedade de Cirurgia Plástica Estética fez advertências sobre a técnica, dizendo que apenas um pequeno estudo foi publicado sobre seu uso na remoção de gordura, trabalho que envolveu 30 pacientes que tiveram pequenas quantidades de gordura retiradas das pálpebras inferiores. Uma preocupação, disse a sociedade, é se a droga pode destruir outros tecidos que contêm lipídios, além das células de gordura.

A Lysix Medical, uma nova companhia de Eden Prairie, Minnesota, espera usar outra técnica, chamada eletroporação, para destruir células de gordura. A eletroporação usa corrente elétrica para abrir os poros das membranas celulares. Ela foi aperfeiçoada durante vários anos para administrar drogas através da pele ou em tumores.

H. Ali Jaafar, presidente da Lysix, diz que as células de gordura seriam mais suscetíveis à eletroporação porque tendem a ser maiores que as outras células. Assim, aplicando-se corrente elétrica à pele por meio de eletrodos, as células de gordura seriam atingidas preferencialmente. Se a voltagem for suficientemente alta, os poros poderiam não voltar a se fechar, e as células morreriam.

Jaafar diz acreditar que isso não é doloroso, embora seja necessária a aplicação de anestesia local. A empresa acaba de testar a técnica em ratos e está avançando lentamente devido à falta de dinheiro, ela diz.

Se essas técnicas não funcionarem, provavelmente outras serão testadas. "Todo mundo gostaria de remover a gordura sem cirurgia", diz Rohrich.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves


 

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