Mais veloz, mais poderoso e mais caro

SÃO PAULO - As operadoras brasileiras se apressam para lançar celulares de terceira geração - que vêm causando uma revolução no exterior.

A história da telefonia celular no Brasil pode ser contada a partir de dois momentos principais. O primeiro aconteceu em 1990, quando foi lançado o primeiro aparelho móvel do país, um trambolho de quase meio quilo. O serviço era tão caro que o celular naquela época era "coisa de rico". O segundo momento, em 1998, marcou o início da popularização do celular. Foi quando as operadoras apostaram nos pré-pagos, hoje responsáveis por mais de 80% dos aparelhos em uso no país. Está em curso, agora, a construção do terceiro divisor de águas do setor. Até o final do ano, pelo menos duas operadoras, Telemig e Claro, devem lançar aparelhos da terceira geração de celulares (3G). As demais esperam seguir o mesmo caminho em 2008. Com essa tecnologia, os celulares funcionam como um computador conectado à internet em banda larga - o que abre caminho para uma gama diversa de aplicações para o celular. É possível assistir à televisão no telefone e transmitir vídeos. No Japão, os consumidores usam o celular até como substituto para o tíquete do metrô.

O público cobiçado pelas operadoras restringe-se a 5% dos usuários de celular do país, algo em torno de 5 milhões de consumidores. Parece pouco diante dos investimentos necessários para implementar a tecnologia - oferecer os serviços em todo o país custaria 2 bilhões de reais por operadora. Mas a explicação está nos hábitos de consumo desses usuários, os mais endinheirados do país. Sozinhos, eles são responsáveis por, no mínimo, 20% do faturamento das operadoras e estariam dispostos a gastar de 20 a 30 reais por mês em serviços 3G. Como esse universo é pequeno, as operadoras iniciaram uma corrida contra o tempo para lançar os novos aparelhos o quanto antes. "Quem oferecer o serviço primeiro espera ficar com os principais clientes do concorrente", diz Erasmo Rojas, diretor da 3G Americas, entidade criada para disseminar a tecnologia no continente. A Telemig investiu cerca de 260 milhões de reais em sua nova rede, que deverá entrar em operação em dezembro. A operadora vai aten der uma área de míseros 30 quilômetros quadrados da região de Belo Horizonte, mas o anúncio foi suficiente para causar frisson entre os rivais. A Claro prepara-se para lançar sua rede 3G até o final do ano. Segundo executivos do setor consultados por EXAME, a empresa já está em fase de testes de equipamentos. A TIM também está em negociação com fornecedores de infra-estrutura para 3G. Claro e TIM não confirmam as informações.

Mais que uma renda extra, esse novo filão pode significar a manutenção da saúde das operadoras. No mundo todo, o celular que serve apenas como telefone é cada vez menos lucrativo. No Brasil, a receita média por usuário das operadoras --uma das menores do mundo - caiu 10% nos últimos cinco anos. Nesse cenário, a terceira geração aparece como alternativa para impulsionar a expansão das empresas. Nos mercados em que a tecnologia 3G já está madura, o ritmo de crescimento da receita com a transmissão de dados é impressionante - nos Estados Unidos, dobrou nos últimos dois anos. Esse tipo de serviço é responsável por 32% da receita da operadora japonesa NTT DoCoMo e por 19% do faturamento da Vodafone européia. No Brasil, em média, essa porcentagem não passa de 7%.

Com a entrada em massa das operadoras no segmento 3G, os especialistas esperam que a tecnologia finalmente emplaque no Brasil. A Vivo, maior operadora do país, foi pioneira: oferece há três anos um sistema conhecido pela sigla EVDO, que também tem velocidade de banda larga, e clientes de 28 cidades podem acessá-lo. Segundo analistas, porém, os altos preços dos serviços impediram que o sistema se disseminasse (cada música baixada no celular custa mais de 4 reais, preço considerado proibitivo). Nos últimos anos, a tecnologia EVDO foi ultrapassada por outra, a WCDMA, adotada em praticamente todos os países desenvolvidos. Como acontece com qualquer tecnologia, a chave para sua popularização é a escala de produção, que baixa os custos e, conseqüentemente, os preços. É o que vem acontecendo no mundo inteiro com o sistema WCDMA - justamente o sistema que será adotado pelas operadoras brasileiras. "Com a nova tecnologia e o maior número de concorrentes, os preços vão cair e beneficiar o consumidor", diz o consultor Luiz Minoru, diretor do Yankee Group.

As operadoras brasileiras e o governo discutem a entrada na terceira geração desde a década de 90. As conversas ocorreram num ritmo tão moroso que o edital para o uso de uma faixa de freqüência específica para a terceira geração só vai sair no final do ano. Demoraria, portanto, até 2008 para que a nova tecnologia ficasse disponível. A experiência do mercado americano, porém, encurtou esse prazo. Lá, a opção de algumas operadoras foi adotar a faixa de freqüência de 850 MHz para a terceira geração. E essa era a mesma freqüência usada no Brasil pelas empresas que operavam no antigo sistema TDMA. Como essa tecnologia evoluiu para o GSM, algumas operadoras ficaram com a faixa sobrando. A decisão das operadoras americanas conferiu escala à operação em 850 MHz e deu segurança para que as brasileiras seguissem o mesmo caminho. Esse atalho beneficia em cheio a Claro. A empresa possui a faixa de 850 MHz livre em 21 estados. A TIM conta com uma distribuição mais modesta. São 11 estados, a maioria deles na Região Nordeste. A Brasil Telecom e a Oi não possuem a freqüência, pois nunca operaram com tecnologia TDMA. Já a Vivo opera nessa faixa, mas não pode utilizá-la para a terceira geração: a freqüência está ocupada com sua recém-lançada rede GSM. Diante disso, estima-se que todas as operadoras participem do leilão do final do ano. "Todas terão de adotar a nova tecnologia", diz André Mastrobuono, presidente da Telemig. "É um caminho sem volta." O consumidor espera que, desta vez, seja para valer.

A vida com 3G

O que vai mudar nos celulares brasileiros com a nova tecnologia:

Internet rápida: Com o 3G, será possível acessar a internet com velocidade dez vezes superior à maioria dos celulares de hoje

Transmissão de vídeos: A tecnologia permitirá a troca de imagens em tempo real.As pessoas vão se ver durante as conversas e mostrar objetos ou lugares para o interlocutor

Mais serviços: Pelo celular, o usuário poderá, ao melhor estilo Big Brother, captar imagens da própria casa.Basta instalar câmeras compatíveis com o 3G

Por Melina Costa, da EXAME

 

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