Gorro eletrônico permite mover PC com pensamento


Usando um gorro eletrônico, o cientista austríaco Peter Brunner olha fixamente para a tela de um computador portátil e aí, sem nem mesmo pestanejar, começa a compor, letra a letra, uma mensagem que aparece em uma tela gigante acima de sua cabeça. "O-L-Á", escreve, usando apenas o poder do pensamento, surpreendendo o público presente: cientistas e curiosos reunidos em Paris por ocasião da segunda edição do salão de Pesquisa e Inovação.

Peter Brunner e dois de seus colegas do centro público de pesquisas de Wadsworth (em Nova York) puseram à prova na capital francesa uma nova forma de comunicação entre cérebro e computador. Graças às dezenas de eletrodos inseridos no gorro eletrônico, este assombroso equipamento capta sinais elétricos emitidos pelo cérebro e os digitaliza para que o computador seja capaz de traduzi-los.

Sem intervenção de nervos ou músculos, a interface "oferece uma possibilidade de comunicação e de autonomia para as pessoas que sofrem paralisias totais" e que não podem nem falar, nem se movimentar, explicou Eric Sellers, outro cientista do centro de Wadsworth. Os cientistas trabalham há 20 anos na conversão do pensamento em ação, mas só agora conseguiram, quando a tecnologia começa a sair dos laboratórios para se tornar em aparelhos em serviço ao homem.

De agora em adiante, o poder da mente sobre a matéria não vai pertencer de forma exclusiva ao circo ou à ficção científica, com seus "quase magos" capazes de torcer colheres só com o olhar. Com esta nova forma de comunicação cérebro-computador será possível melhorar consideravelmente a qualidade de vida de 100 milhões de pacientes no mundo, 16 milhões dos quais são vítimas de paralisia cerebral e pelo menos cinco milhões mais com ruptura da medula espinhal, antecipou o doutor Sellers. Além disso, 10 milhões de pessoas também sofrem de paralisia total depois de um acidente vascular cerebral, informou.

As aplicações possíveis da nova invenção vão mais além da escrita: só é uma questão de tempo para que a tecnologia seja utilizada para guiar cadeiras de rodas, previu Sellers. "Já somos capazes de fazê-los. Mas o problema é complexo e, por enquanto, não seria muito certo", acrescentou. O terror do aprisionamento de uma mente lúcida em um corpo paralisado foi cruamente retratado no fim dos anos 1990 pelo jornalista francês Jean-Dominique Bauby em suas memórias "O Escafandro e a Borboleta", ditadas através de piscadelas com seu olho esquerdo.

O sistema implantado em Wadsworth se baseia no algoritmo que analisa as ondas emitidas pelo cérebro, como em um eletroencefalograma, e marca os picos de intensidade correspondentes a esforços mentais definidos. Quando o doutor Brunner se concentra para escrever o "F" de "folha", ele fixa sobre a tela uma fileira de letras e símbolos, iluminados rapidamente e de forma aleatória.

Cada vez que uma fileira, vertical ou horizontal, contém a letra "H", seu cérebro emite um sinal ligeiramente mais forte. O computador precisa de 15 segundos para determinar a letra vislumbrada, mas os resultados melhoram com a prática. Um neurobiólogo americano de 48 anos, vítima da doença de Charcot - uma enfermidade degenerativa das células nervosas - pode continuar trabalhando graças a este programa, apesar de não conseguir nem mover os olhos.

"Redige propostas de subvenções, envia correio e é capaz de usar o teclado do computador em casa", disse. Inclusive escreveu uma mensagem expressamente para a demonstração de Paris, projetada pelo doutor Sellers. Dirigindo-se a Altran, a sociedade francesa que acertou em 2005 seu prêmio anual à equipe americana, escreveu: "Sou um pesquisador em neurociência que não poderia viver sem esta interface. Teclo esta mensagem com meu eletroencefalograma graças à amável autorização do programa de pesquisas sobre o sistema de comunicação cérebro-computador do centro de Wadsworth".
 
AFP

 
 

Arquivo noticias>> clic

mais noticias do mês... clic

      


E-mail

Copyright© 1996/2006 -  ANO10 -  Netmarket  Internet  Brasil -   Todos os direitos reservados

Home