Iraquiana relata o caos de Bagdá em blog

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EDUARDO SIMÕES
da Folha de S.Paulo

Com um tom ora irônico, ora combativo, uma iraquiana de supostos 26 anos, moradora de Bagdá, tem chamado a atenção do mundo editorial e da mídia com um blog sobre a ocupação militar americana em seu país. Sob o pseudônimo de Riverbend, a blogueira mantém, desde agosto de 2003, ano da invasão americana, um diário em que descreve o duro cotidiano de seu país, onde faltam eletricidade, água, gás etc. E sobram vítimas.

Em seu blog, Riverbend não se limita, no entanto, a colocar no ar seus comentários sobre a ocupação, com críticas sobretudo à tentativa de implantar no país um governo de marionetes da Casa Branca. Ela descreve também as reuniões familiares, de onde tira as receitas da culinária iraquiana que coloca no link "Is Something Burning?" (tem algo queimando?).

A blogueira lista ainda o endereço de blogs e sites correlatos, como o Iraq Body Count, que contabiliza o número de vítimas civis da guerra, e o Iraq Music, de onde é possível baixar música iraquiana no formato MP3.

No ano passado, o blog (
www.riverbendblog.blogspot.com) se tornou livro, com o título "Baghdad Burning - Girl Blog from Iraq", com uma apresentação da engajada atriz Susan Sarandon estampada na capa: "Qualquer pessoa que se importa com a guerra no Iraque deve ler este livro".

O título foi um dos vencedores do prêmio internacional Lettre Ulysses Award de Arte da Reportagem, que tem em seu comitê de seleção o escritor alemão e Nobel de Literatura Günter Grass. E no mês passado Riverbend se tornou a primeira autora de blog finalista do prêmio Samuel Johnson de não-ficção, da rede BBC.

Publicado nos Estados Unidos e Inglaterra, "Baghdad Burning" teve direitos vendidos para o Japão, a Alemanha e a Espanha. Portugal já está na fila, mas ainda não se tem notícia de uma tradução para o Brasil.

Verdadeiro ou falso?

Apesar de todo o rebuliço, pouco se sabe de Riverbend, cujo anonimato é preservado por seus editores. Em seu diário, ela se apresentou inicialmente como "uma mulher iraquiana de 24 anos", que sobreviveu à guerra. "Isto é tudo que vocês precisam saber. É tudo que importa hoje em dia", escreveu a blogueira, que afirma ter trabalhado como programadora de computadores até perder seu emprego porque o caminho para o escritório ficou perigoso para mulheres, com a guerra.

Sua editora nos Estados Unidos, Florence Howe, da "Feminist Press", disse à Folha que foi convencida pelo jornalista James Ridgeway, correspondente do jornal "Village Voice" em Washington, a publicar o blog. Uma das primeiras pessoas a "descobrir" Riverbend, a quem volta e meia menciona em seus artigos, Ridgeway assina introduções para cada seção do livro, trabalho pelo qual é remunerado.

Howe, que afirma pagar Riverbend através de depósitos em contas de terceiros, é reticente quando questionada se a blogueira, cujo inglês é curiosamente impecável, não poderia ser uma invenção nos moldes do escritor americano JT LeRoy, retratado como uma farsa em reportagem de fevereiro do jornal "The New York Times".

"Lamento, mas não tenho tempo para isso", diz Howe. "Conheço Ridgeway há muito tempo e confio nele bastante. Ele fez contato com ela, através da internet, logo no começo do blog, e nos garante que ela é uma mulher iraquiana de verdade."

Howe, que em setembro lançará um segundo volume de "Baghdad Burning", conta que já negociou a venda dos direitos de adaptação do livro para o teatro. Hollywood à vista? Nem pensar, garante a
jornalista: "Não vou fazer as concessões que o povo da indústria do cinema espera".

Procurada várias vezes pela reportagem da Folha pelo endereço eletrônico que mantém em seu blog, Riverbend não respondeu.

"Riverbend recebe centenas de e-mails diariamente e responde a alguns deles", conta Howe. "Correspondo com ela regularmente, mas não quero saber quem ela é ou onde está. Quero apenas que ela continue vivendo e escrevendo. Não preciso dizer o quão perigosas as coisas estão no Iraque."

   
 

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