A um passo da realidade

Cilene Pereira e Lena Castellón
Colaborou: Celina Côrtes

Ser portador de uma doença mental é um dos maiores sofrimentos a que um indivíduo pode ser submetido. Quase sempre essas enfermidades causam um estado de confusão psíquica e emocional tamanho que o resultado é avassalador. O paciente fica com a capacidade de interação com a família e com a sociedade bastante prejudicada. Torna-se só e fechado em si mesmo. Entre essas doenças, talvez uma das mais duras e devastadoras seja a esquizofrenia. Com incidência em cerca de 1%
da população, esse mal caracteriza-se pela ruptura do pensamento racional e do senso de personalidade. O doente perde a conexão com
a realidade. Vê pessoas que não existem, escuta ordens que não foram dadas, sente-se perseguido por conspirações que jamais ocorreram.
Se não for tratado corretamente, corre o risco de passar a vida perdido em um mundo imaginário.

Mas a ciência tem feito sua parte para aliviar esse sofrimento.
Drogas modernas estão permitindo um melhor controle dos sintomas
da enfermidade – alucinações e delírios, entre os principais –, com
a vantagem de causarem menos efeitos colaterais do que os antipsicóticos antigos. Os primeiros remédios usados contra o
mal atenuavam manifestações esquizofrênicas, mas provocavam consequências quase tão ruins quanto as geradas pelo transtorno. O paciente acabava com dificuldade para andar, falar, controlar a língua, tinha tiques. “Isso contribuía para reforçar o estigma sobre a doença”, afirma o psiquiatra Wagner Gattaz, da Universidade de São Paulo.
É compreensível. Os trejeitos ajudavam a carimbar ainda mais o
doente com a pecha de “louco”.

Os remédios atuais não oferecem tanto problema. O mais novo representante dessas drogas é o aripiprazol, da Bristol-Myers Squibb, lançado no País há um mês. O remédio causa menos efeitos colaterais. “Ele tem um mecanismo de ação diferenciado dos produtos antigos. Por isso, não apresenta complicadores como o andar robotizado e o aumento de peso”, afirma a psiquiatra Anna Maria Costa, gerente de operações médicas do laboratório no Brasil.

Drogas como essa foram possíveis graças ao maior conhecimento sobre
o mal. É verdade que as causas da esquizofrenia não estão esclarecidas. Mas hoje já se dispõe de informações importantes. A primeira é a de
que a doença tem componente genético – famílias nas quais há um portador têm mais chance de abrigar outros doentes. Outro achado
está relacionado à química cerebral. Sabe-se que desequilíbrios de substâncias presentes no cérebro são uma das razões do transtorno. Entre elas, está a dopamina. Os remédios antigos agiam sobre a dopamina, impedindo sua entrada nos neurônios. O problema é que essa atuação se fazia em todo o cérebro, o que inibia a ação da dopamina
em regiões onde ela é importante, como nas áreas associadas ao controle de movimentos. É por isso que um dos efeitos colaterais das primeiras drogas eram as dificuldades motoras.

Os remédios modernos, como o aripiprazol e a olanzapina, do laboratório Eli Lilly, têm ação seletiva. Eles modulam a dopamina de forma a inibi-la onde é preciso e estimulá-la onde é necessário. O paciente tem os sintomas controlados e uma qualidade de vida melhor. “A medicação permite estabilidade psicológica, dando ao doente a oportunidade de se organizar internamente, o que favorece um melhor desempenho social”, afirma o psiquiatra Jair Mari, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O portador também adere mais ao tratamento e pode
voltar à rotina normal. Muitos trabalham, namoram. O carioca Adolfo,
62 anos, por exemplo, emociona-se ao acompanhar a recuperação
do filho, medicado com o aripiprazol. “Dias depois de começar o tratamento, ele era outra pessoa”, conta, com os olhos marejados. “Passou a se interessar por tudo. É indescritível a sensação de vê-lo caminhar para a normalidade”, diz.

E vêm mais novidades por aí. O Eli Lilly prepara três novas apresentações da olanzapina. A primeira é injetável, indicada para paciente em surto, quando às vezes é difícil controlá-lo. O remédio começa a agir em 15 minutos. A segunda versão é um comprimido sublingual, que permite a absorção imediata da droga. É indicada para doentes que resistem a tomar a medicação. Como a droga é absorvida em três segundos, a garantia de que ela foi tomada é maior. Essas apresentações devem
estar disponíveis no Brasil em 2004. O outro produto é a olanzapina “depot”, droga injetável para ser tomada em intervalos que podem
variar de duas a quatro semanas. “Esta nova forma também melhora
a adesão ao tratamento”, explica o psiquiatra Maurício Lima, gerente médico de neurociências do Eli Lilly. Essa apresentação deve
chegar ao Brasil em 2005.

 

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