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  Março/2011

 

 

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Fabiano Candido, de INFO Online
 
SÃO PAULO – Ainda criança na década de 50, João Antônio Zuffo adorava fazer experimentos químicos. Um dia, ele explodiu o laboratório caseiro que mantinha nos fundos de sua casa, no bairro da Aclimação, em São Paulo, e se machucou com os vidros de um tubo de ensaio.

No episódio, ele tomou umas broncas da mãe e teve que dar fim aos materiais químicos que comprara numa farmácia de manipulação, no centro da cidade. Como recompensa, Zuffo ganhou uns livros que ensinavam a mexer com eletrônica, a tecnologia do momento. O garoto se apaixonou pelo tema e estudou engenharia e tudo o que fosse ligado a ficção científica - até virar doutor na Politécnica da USP e um dos mais renomados cientistas brasileiros na área de informática. 

Muito além dos zeros e uns da fria informática, ele tem estudado e escrito sobre o impacto da tecnologia na vida humana. Entre suas pesquisas e reflexões, Zuffo busca compreender como a internet contribuiu para deixar as pessoas e as empresas mais rápidas e produtivas. Mas ele também quer entender quais as consequências negativas dos smartphones, computadores, tablets e afins no dia a dia das pessoas. “Hoje, as pessoas não querem saber a lógica por detrás das coisas do cotidiano. Elas buscam a resposta no excessivo mundo de informações duvidosas da web.”

A internet traz algo negativo à sociedade?

A internet deixou o trabalho, o estudo, enfim, tudo mais rápido. É um fato que vai ficar na história. Mas ela trouxe junto o excesso de informações. As pessoas têm tanto conteúdo para acessar que acabam ficando ansiosas para vê-los, ou seja, trocam as atividades familiares ou sociais para ficar em frente a um aparelhinho que lhes traga informações – que pode ser uma notícia, um recado numa rede social, um e-mail, entre outras coisas. Isso é uma consequência ruim da evolução tecnológica.

E como essa ansiedade se reflete no dia a dia das pessoas?

No mundo corporativo, por exemplo, os trabalhadores sofrem uma pressão anormal para entregar resultados. Alguns projetos de engenharia que demoravam um ano pra ficar prontos na década de 60, hoje, por exemplo, são entregues em uma semana por causa dos computadores e da troca de informações entre as pessoas. É bom? É! Mas o projeto acaba sendo feito num ambiente muito agressivo, já que as pessoas competem mais entre si. Portanto, hoje o trabalho é mais conflituoso.

O excesso de informações interferiu nas relações familiares?

A internet abalou a estrutura familiar de duas maneiras. As famílias estão mais virtuais, ou seja, gastam mais tempo com aparelhos eletrônicos do que com as pessoas. Mas ela também deixou mais perto filhos que moram longe dos pais, por meio das conferências via webcam, e-mail, redes sociais e das ligações gratuitas via web. Uma interferência bastante curiosa, no meu ponto de vista, é que o excesso de informação modificou a hierarquia familiar. Até meados dos anos 80, o pai era a figura central da família, pois tinha a experiência do trabalho e da vida. Isso não existe mais. Hoje, todo mundo da família pode ter o mesmo tipo de conhecimento. Meus netos, por exemplo, me ensinam a mexer com os novos eletrônicos da casa.

Isso se reflete também na relação patrão-empregado?

Também. Hoje, o chefe precisa da ajuda dos subordinados para conseguir os resultados. Sem esse apoio, o chefe não faz absolutamente nada, até porque não domina todos os processos de um departamento. A mesma coisa, vale dizer, acontece na universidade. O aluno pode dominar uma linha de estudo muito mais que um professor. A função do professor, portanto, é usar sua experiência para ajudar no projeto e preparação de uma pesquisa acadêmica.

A tecnologia pode prejudicar o ensino?

As crianças ganham muito jogo de cintura com os computadores, é um fato. Contudo, elas passam a usar o computador para tudo, principalmente para resolver os problemas matemáticos. Ao agir assim, as crianças deixam de lado o aprendizado lógico e a abstração. Para uma criança aprender bem, ela precisa pegar uma folha em branco, uma borracha e o lápis e resolver o problema sem a ajuda das máquinas.


Mas os professores estimulam o uso de computador...

Sim, de forma equilibrada. Os estudantes não podem usar o computador para resolver as tarefas e acessar o mundo de informações da internet para copiar trabalhos escolares – até porque a internet tem um monte de informação errada. Eles precisam ler as matérias, pensar nos problemas e resolver os desafios dados pelo professor.
 

Que tipo de problemas a web pode gerar atualmente?

Um monte de coisas pode acontecer. A crise no Oriente Médio é um belo exemplo. A população dos países que luta contra seus governos descobriu por meio das redes sociais que é melhor viver sem ditadores. E, por isso, resolveu sair às ruas para protestar. Esse é o lado positivo. Mas tem o lado negativo. Algumas pessoas usam as mesmas redes sociais para incitar a violência, vigiar o que as pessoas fazem na vida privada, entre outras coisas.

O senhor falou em “vigiar” pessoas. A tecnologia é um mal para a privacidade?

Depende do ponto do vista de cada um. O uso de câmeras para monitorar as ruas ajuda na resolução de crimes, por exemplo. Mas o uso indevido dessa tecnologia deixa o cidadão de bem totalmente sem privacidade. Hoje, câmeras nas ruas fotografam os carros, os pedágios registram quem passam pelas estradas, o transporte público grava os passageiros que se locomovem entre a casa e o trabalho. Quem odeia essa invasão não tem a opção de se esconder da tecnologia. O pior é que essa vigilância gera uma massa de informações gigantesca e pode parar na mão de pessoas erradas, que podem usar as imagens para venda de publicidade e também para chantagens. O governo precisa discutir e criar leis para a privacidade em caráter urgente.

Como vamos lidar com o crescimento da tecnologia no dia a dia?

A tendência é que a internet, por exemplo, esteja em todos os lugares num futuro próximo (como em um fogão, em uma porta, por exemplo) e, por isso, a gente até esqueça que ela existe. Claro, isso vai aumentar todos os problemas que já enfrentamos atualmente, principalmente os de privacidade e o de excesso de informação. Mas eu acho que com o avanço da tecnologia vamos criar também mais mecanismos para nos proteger dos atuais problemas, com a introdução de tecnologias de leitura biométrica e, também, com a criação de algoritmos avançados que filtrarão o que é bom e ruim no excesso de dados da internet.

 

 

 

     

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