Clone improvável

Giovana Girardi

Cópias de primatas têm defeito fatal

O anúncio sem provas do nascimento de bebês-clones no começo do ano já era considerado fantasioso demais e provavelmente mentiroso se só tomássemos como base a ineficácia registrada em tentativas anteriores de clonagem de primatas. Agora, um novo estudo parece comprovar que clonar com fins reprodutivos esses animais, incluindo os homens, pode ser impossível. Enquanto governos do mundo inteiro avaliam formas de proibir a clonagem humana, a própria natureza já se encarregou de colocar os obstáculos.

Pesquisadores norte-americanos constataram aberrações cromossômicas graves em embriões de macacos rhesus criados por clonagem que invariavelmente os levaram à morte. O estudo, feito na Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, foi publicado na revista 'Science' (www.sciencemag.org), em abril.

Na tentativa de clonar o rhesus, os cientistas utilizaram 716 óvulos, que foram fundidos a células do macaco que pretendiam clonar. A princípio, os embriões obtidos pareciam normais, e 33 deles foram implantados em macacas, mas nenhum vingou. Os pesquisadores perceberam que um processo fundamental para o sucesso das divisões celulares tinha falhas.

Para uma célula se dividir, primeiro ela precisa duplicar seus cromossomos para depois poder se separar. Esse processo só funciona corretamente se os cromossomos estiverem alinhados, o que ocorre por conta da ação de uma proteína chamada NuMA. Mas, aparentemente, essa substância não é produzida nos clones. Sem ela, ocorrem aberrações durante a divisão cromossômica, inviabilizando a evolução do embrião.

Os pesquisadores acreditam que a mesma falha pode acontecer com os seres humanos. E até o momento não existem métodos capazes de superar essas dificuldades.