Risco
      de monopólio na TV por satélite preocupa 
       
      O mercado brasileiro de TV por assinatura vai levar um "chacoalhão"
      quando for concretizada a compra da DirecTV pelo magnata da mídia Rupert
      Murdoch. O negócio anunciado na quarta-feira colocará o grupo News Corp,
      de Murdoch, com a quase totalidade do segmento de TV por satélite no país
      ou 1,2 milhão de clientes.
      O titular da Secretaria
      de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg,
      disse que o caso gera preocupação. "Parece ter efeitos
      anticompetitivos claros pela descrição da operação", afirmou
      nesta quinta-feira. Mas isso não significa que a SDE reprovaria o negócio.
       "Nesse tipo de caso,
      alta concentração não significa tudo. É preciso avaliar se há
      potenciais entrantes ou barreiras no mercado", acrescentou.
       A SDE será chamada a dar
      um parecer quando o processo for encaminhado ao Conselho Administrativo de
      Defesa Econômica (Cade), mas as condições do negócio sequer foram
      apresentadas à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
       No mercado de TV paga, o
      negócio já é visto como uma tábua de salvação para a Sky, na qual a
      News Corp é sócia das Organizações Globo, e para a DirecTV, uma das
      unidades da concordatária DirecTV Latin America. As empresas evitam falar
      na possibilidade de fusão das operações, mas essa seria a alternativa
      natural.
       Em comunicado divulgado
      na noite de quarta-feira, a DirecTV Latin America argumentou que o negócio
      de Murdoch não pressupõe a consolidação da empresa com a Sky Latin
      America, mas foi feita uma ressalva: qualquer oportunidade para melhorar a
      eficiência operacional e reduzir custos associados será considerada.
       O mercado brasileiro de
      TV paga está praticamente estagnado há dois anos. A desvalorização do
      real pesou sobre os custos porque a programação é negociada em dólar,
      assim como agravou a situação das empresas endividadas na moeda
      norte-americana.
       A DirecTV brasileira, por
      exemplo, vem perdendo clientes há dois anos. Passou de 470 mil clientes
      em 2000 para 432 mil em 2002, e tinha 13% do mercado de TV por assinatura
      no país em meados do ano passado. A empresa não divulga o desempenho
      financeiro no Brasil.
       A Sky tem conseguido
      atrair novos clientes. Ultrapassou os 740 mil este ano e se diz com 21% do
      mercado de TV por assinatura brasileiro. Ainda assim, teve prejuízo de
      US$ 386,6 milhões, segundo as regras contábeis norte-americanas.
       As duas empresas
      concorrem no segmento de TV por satélite apenas com a Tecsat, que tem 70
      mil clientes, 2% do mercado brasileiro, e está em concordata. As
      operadoras de TV a cabo ainda são dominantes, com 59% dos clientes, e a
      tecnologia de microondas está limitada a 8% dos 3,8 milhões de
      assinantes do país.
       A grande vantagem da TV
      por satélite, que é alcançar áreas mais distantes num país com dimensões
      continentais - ao contrário do cabo, fortemente concentrado nas grandes
      cidades - pode também reverter contra Murdoch.
       Na ampla maioria dos mais
      de 5.500 municípios brasileiros, o cliente só pode ser atendido pelo satélite
      e é aí que estaria a fortíssima concentração de uma operação
      conjunta controlada pela News Corp.
       No Japão, Espanha e Itália,
      aquisições recentes que levaram a concentração no mercado de TV por
      assinatura - envolvendo a News Corp em dois casos - foram aprovadas. Já
      nos Estados Unidos, as autoridades de defesa da concorrência barraram a
      compra da DirecTV pela EchoStar porque haveria monopólio em áreas
      rurais.
       Quando o caso for
      apresentado à Anatel, vai se esclarecer também a posição da News Corp
      na Sky. Desde julho do ano passado, o grupo de Murdoch assumiu a gestão
      da operadora brasileira, embora com 36% do capital.
       Com a decisão das
      Organizações Globo de não mais investir na empresa, os aportes feitos
      pela News Corp levariam a uma participação maior, que estaria em 49%
      atualmente, segundo fonte do mercado. A Liberty Media tem outros 10%.
                    
      Reuters 
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