Uma em cada três pessoas é alérgica, metade é crianças

A incidência de doenças alérgicas aumentou cerca de dez vezes nos últimos 30 anos. Os médicos falam até em epidemia. Estimam que uma em cada três pessoas tem alergia e que 50% delas são crianças. A alergia é, no mínimo uma chatice, e pode se transformar num problemão quando se traduz em casos como a asma. Ela atinge cerca de 15% das crianças entre 7 e 15 anos e provoca crises de falta de ar que acabam com freqüência no pronto-socorro. É o que ocorre com Gabriel Machado, 7 anos. Quando bebê, ele vivia com o nariz escorrendo e o médico diagnosticou rinite, outra alergia respiratória comum. 'Depois dos 4 anos, começaram as crises, com tosse constante, chiado no peito e falta de ar. Era asma', conta a mãe, Fernanda. Ela já foi parar no hospital com Gabriel três vezes. Agora sabe quando a crise está chegando e faz inalação no garoto em casa para não piorar. 'Ele começa a dormir mal, fica irritado e surge a tosse seca', diz Fernanda. As alergias apresentam diversas particularidades e, em comum, o fato de não terem cura. Os tratamentos impedem que elas se manifestem. Aparecem em parte ou no corpo todo e com intensidade variável. As mais fortes podem até levar a um choque anafilático - a reação exagerada que resulta em queda brusca de pressão, desmaio e dificuldade respiratória grave. Algumas alergias se confinam nos olhos (conjuntivite), no nariz (rinite), na pele (dermatite) ou no intestino (alergia alimentar). 'Na infância, os meninos são mais suscetíveis que as meninas. A situação se inverte na vida adulta e ninguém sabe explicar o motivo', afirma a pediatra Andrea Keiko Gushiken, alergista e imunologista do Hospital da Criança da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Defesas desequilibradas

Tudo começa por causa de uma falha no sistema imunológico da criança, que classifica algumas substâncias, os chamados alérgenos, de forma errada e os combate com um anticorpo especial, a imunoglobulina. Esse ataque de imunoglobina produz uma série de reações químicas no corpo, como a liberação da histamina, que provoca inchaço, vermelhidão e coceira. A reação é hereditária. Quando um dos pais tem alergia, há entre 20 e 40% de probabilidade de os filhos desenvolverem o problema. E, se ambos forem alérgicos, o risco pode chegar a 80%. 'Estudos tentam comprovar se a falha no sistema imunológico ocorre em um ou mais genes', diz a pediatra Andrea. 'Desconfia-se que seja uma combinação de genes por ser muito difícil achar a causa exata de uma alergia', afirma Cristina Miuki Abe Jacob, chefe da unidade de Alergo e Imunologia do Hospital da Criança.

Descobrir o agente que desencadeia a alergia também é difícil. 'Estima-se que existam mais de 500 alérgenos em nosso meio', diz o médico infectologista Pedro Garbes, professor de clínica médica da Universidade Federal Fluminense (UFF). Poucos têm nome e endereço como os pêlos de cachorro e de gato e os ácaros - espécie de piolho que adora se instalar em locais quentes e úmidos, como o mofo, ou entre colchões, travesseiros, bonecas de pano e bichos de pelúcia. O leite de vaca, o ovo, o amendoim e a soja também integram a lista. E a cada dia se descobre um novo irritante. A banana e o kiwi, por exemplo, ganharam status de vilão há pouco tempo.

Vida moderna

Na tentativa de entender o motivo da explosão de agentes alérgicos no mundo, pesquisadores apostam nas mudanças ocorridas em nosso cotidiano, como a aglomeração urbana. Prédios de apartamentos são construídos uns colados nos outros, impedindo a ventilação e a iluminação naturais adequadas em todos os andares. 'Seria bom que todos pudessem ter uma casa arejada, com o sol entrando nos quartos para evitar o mofo e os ácaros', afirma Andrea. Segundo ela, de 70 a 80% das crises de rinite e asma são provocadas pelas fezes invisíveis dos ácaros. Recomenda-se usar capa protetora nos colchões e em travesseiros porque elas podem ser lavadas constantemente, impedindo a instalação dos micróbios. Além disso, tudo que junta poeira, como cortinas, carpetes e bichos de pelúcia, não é bem-vindo em casa de criança alérgica.

A disseminação do fumo também teria contribuído para o aumento das alergias, segundo especialistas. Quando um cigarro é queimado cerca de 3.800 substâncias químicas são liberadas no ar. Crianças pequenas, filhas de mães fumantes, têm três vezes mais probabilidade de apresentar chiado no peito, mesmo que não seja asma. 'Isso mostra o quanto o cigarro pode ser nocivo para o sistema respiratório de uma criança, principalmente se ela tiver tendência a alergia', afirma Cristina Jacob.

Nariz entupido

'As alergias também são a porta de entrada para outras doenças', explica a pediatra e alergista Denise de Andrade Moreira. Ao inflamar os tecidos das células, principalmente as respiratórias, a alergia deixa o corpo vulnerável ao ataque de vírus. Se a crise coincide com ondas de virose, os alérgicos são os primeiros a adoecer. A pior fase para quem tem alergia respiratória é a primavera, quando o pólen das flores, outro poderoso agente alergênico, está no ar. O frio também induz às crises e, em qualquer época do ano, a poluição ainda maltrata as crianças e os adolescentes, principais vítimas da rinite alérgica. É a alergia que mais tem crescido - atinge 20% da população mundial -, ao lado da asma e das alergias alimentares. Seus principais sintomas são coceira, seqüência de espirros e coriza. 'Os cornetos, duas bolas que ficam no fim do nariz, ficam inchados, inflamados e impedem a entrada do ar', explica a pediatra Denise.

A rinite pode levar a uma espécie de conjuntivite. Caso de Melissa Bezerra, 9 anos. Quando ela tinha 3, começou a ter os sintomas clássicos da rinite. Após seis anos e muitos cuidados, ainda sofre. Não pode ter contato sequer com giz de cera. 'Nos dias em que ela tem trabalhos de pintura na escola, já sei que vai chegar em casa com os olhos vermelhos e inchados', conta a mãe, Ana Aparecida. 'Passo água gelada e colírio para melhorar', diz. Para atenuar as crises, mantém a filha longe de bichos de pelúcia e carpetes. Mas nem sempre é possível. A mãe percebeu que as mudanças de temperatura também desencadeiam reações alérgicas na filha. 'Estou mais calma porque já sei como agir quando os olhos dela incham. Mas é duro conviver com algo que não tem cura', desabafa. O tratamento mais indicado para a rinite é o uso de antialérgicos e sprays nasais. E, para a conjuntivite, colírios com antialérgico.

Patrícia Cerqueira

 

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